11.6.10

das buscas e achanças

*Ao Som de Clara Nunes
e incenso de Jasmin


Coloquei minhas mágoas dentro de um saco, mas não as levei nas costas, por causa do peso delas. Deixei-as amontoadas num canto, até serem levadas pelo vento (que aprendi que vem com o tempo). Porque as coisas ruins devem ficar adormecidas num asilo próprio para emoções já cansadas. Passei dias e noites treinando as minhas saudades, para que elas não me desmoronassem na frente dos outros. Para que elas se equilibrassem no meio fio e não me fizessem voltar atrás para buscá-las. Do meu riso, fiz companheiro fiel, que me acompanha e me abre os caminhos. Fiz chá de estrelas e sossego pra me tirar da testa as rugas - aquelas da insatisfação. Depois provei da água da serenidade e virei criança de alma. Pus emplastro poderoso nas feridas, que com o tempo pararam de doer e só são lembradas nas missas de sétimo dia. Adocei os olhos com colírio de adeus, para que eles se preparassem e se acostumassem com o tapete vermelho do futuro que se estende a minha frente. E fui me despedindo de tudo aquilo que poderia ter sido e não foi.

4 comentários:

Grasi disse...

Se despedir de tudo que poderia ter sido e não foi... êta tarefa difíci, hein?! Mas é necessária...
Bjão e um sábado super iluminado :)

Winny Trindade disse...

Ain, esse é o seu texto que eu mais me identifiquei.
Gosto especialmente desse.

Abraço meu.

lídia martins disse...

Do que ele disse a ela:


Preto.
Foi a cor que sempre usei.
Nunca quis que visse que as manchas no canto esquerdo
do meu peito, eram de sangue.


Achei que soubesse ler olhares.
Eu estava enganado.

Diego Hatake disse...

É, acho que preciso fazer isso também... Que coincidência.