E eu ouvi um choro no meio da noite. Era a criança sonho que acabava de ter um pesadelo. Ela me chamava porque tinha medo do escuro. Coloquei o meu no bolso, e fui. Porque juntas somos fortes. E nos contamos histórias de navios piratas e fantasmas nos calabouços, para que o tempo passasse mais depressa. De mãos dadas as coisas não são tão feias assim. Depois ela me pediu para que eu voltasse a dormir, o dia já estava aí. Mas eu disse que não. Ficaria ali até que os fantasmas voltassem pros túmulos. Até que nascesse nela, o primeiro sinal de asa. O que não demorou muito a acontecer, porque ela é a pipa, a que voa.
Era uma pipa criança, que teimava em fazer manha quando as coisas não iam bem. Fazia birra, esperneava, tingia o céu de preto e dizia palavras sem feitios. Não, não me venha com xurumelas. Eu sei que a sua dor hoje é demais. Mas ocê não pode parar de remar. Lembre-se que estamos numa corda bamba. Um dia a gente pensa que vai cair, no outro a gente recupera o equilíbrio. E a vida continua. Porque já dizia um certo Guimarães: 'O que ela quer da gente é coragem'. E digo mais. Ela quer da gente é sorriso em dia de chuva. Um arco-íris no olho e céu estrelado. Durma, Pipa, durma. Amanhã será um novo dia. Levantará mais disposta e recuperará os sonhos perdidos. Por enquanto reze pro teu anjo da guarda, não esqueça da oração que te ensinei. Peça força e sabedoria para entender o que o coração ainda não dá conta. E carregue as coisas boas, todas elas, na algibeira da alma. Porque o que a gente leva dessa vida, Dona Pipa, são os risos, os abraços, os carinhos na alma. E isso ninguém nos rouba. Carregue-os com você. Assim, permanecerão vivos para todo o sempre. E te fortalecerá na estrada da vida, que é cheia de espinhos, mas de flores lindas também. Esta noite, toco no teu coração e te arranco uma farpa com as mãos. Agora, deixa sarar. É só questão de tempo. Um dia, você volta a voar como antes. Eu te juro.
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Te mando minhas vibrações coloridas para juntar com as tuas.
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PS: Ei, Psiu, estou sempre aqui, viu, do lado de dentro!
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PS2: Se amanhã o sol sair, te prometo o céu!
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PS3: Eu me vou. Mas não te deixo nunca!
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2 comentários:
"O que sinto.
Não sei dizer."
ele, o Renato.
Mas seguro esse terço bento cintilante que me deu. Pra benzer os últimos sopros de vida de alguém que tanto amei. E há de acender um mundo invisível a ela. Mas cheio de estrelas pra iluminar essas palavras surradas que tem andado comigo a cada passo que dou. Eu te juro que não queria falar dessa minha morte. Só queria desaparecer sem deixar qualquer vestígio.
Te abraço. Me abraças.
Uma coisa carrego comigo: todas as sensações que já vivi. E algumas me dão medo mesmo hoje, mesmo tanto tempo passado... tenho a segurança de seguir em frente, sempre, como se fosse para sempre, háháhá. Desculpe o riso irônico, mas é natual, é puro, aliás, falar de morte para mim é criança falar de brinquedo, faz parte do dia a dia. Estar velho no espelho não significa o estar de verdade, por dentro. E vice versa. Mesmo assim me assusto no espelho, especialmente aquele que meus pais carregaram no rosto. Minhas marcas eram predilições das deles. Minha voz às vezes escoto meu pai nela e vejo minha mãe nos cantos dos meus olhos.
Desculpe se não falo só flores, mas é pq eu também amo aquilo que não me fez cócegas um dia: foram justo eles que me deram coragem do Guimarães.
As flores me deram o sorriso e a lembrança de vc, chão.
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