26.2.10

do que eu levo.



E anda tudo tão arrumado, tão endireitado, que até me estranho. Os sentimentos, todos enfileiradinhos. Com etiqueta e tudo. Porque foi numa daquelas aulas disciplinares, no fundo do mar, que ganhei o meu kit de sobrevivência. Veio um espanador, pra tirar o pó de sobre as emoções cansadas. Um maçarico e um monte de arame, que é pra consertar as coisas quebradas. E dois sacos de areia, que é pra por no riso, pra que ele não vire tristeza. Hoje, eu durmo numa cama de espuma. Durmo bem e acordo melhor ainda. Esvaziar-me de sentimentos que não me ajudavam em nada, fez com que eu ficasse até mais bonita. E me faz querer bem. Querer-te bem. Querer mais bem. Dos tropeços, eu levo os arranhões e um saco cheio de histórias curtidas. Que fazem parte de mim. Eu as esparramo no tapete da sala quando me dá vontade. Depois, as guardo e as coloco em lugar bem seguro, pra ter o que contar mais tarde. E me abasteço de sonhos. Gosto de brincar com eles todaa as noites, antes de dormir. Gosto de saber que eles ainda existem. Gosto de olhar pelo meu binóculo manual e ver um futuro risonho, acenando pra mim.

25.2.10

energia que se dá

Pois entonce, vem comigo: 'O mundo não é este que vês, o mundo ainda está por ser feito'. Porque é dentro da gente que se encontra o alicerce e a escada que nos conduz pra beleza da vida. Trago os meus sonhos pra juntar com os seus. Mirrados, cansados, mas que vivem, dia após dia, tentando um lugar pra morar. Não desistamos, então. Porque nesse parque de diversões, além de ausência, tem música e dança. Olhe em volta e perceba: tem coisa bonita à beça! tem luzes, tem cores...e a gente ta em cima é da roda-gigante! Quanto ao teu jardim, regue, que as flores voltarão a crescer bonitas e fortes como eram antes.
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E fica com Clara Nunes:

Não sou de brincadeira /Canto pelos sete cantos
Não temo quebrantos / Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci / Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira

24.2.10

das precisanças

Tempos dificeis para nós, sonhadores, mas ainda somos bravos guerreiros da tribo da fé. Aquela que não desiste nunca. Aquela em que se plantando, tudo dá. Dá fruta madura e sombra da bôua. Dá água fresquinha e um chão pra morar.

das levezas

E ela me pediu ajuda mais uma vez, porque tinha
se esquecido comé que se faz pra voar.

Eu aprendi que, com dois limões, dá pra fazer uma bela duma limonada. Daquelas azeda mermo, pra descer rasgando guela baixo. Daquelas que a gente fecha o olho e faz até careta. Tou aprendendo que se deve aceitar muitas das coisas que não aprovamos, se não podemos modificá-las. Então, faço assim: Procuro não pensar. O pensar muitas vezes, no dia, me angustia. E encho as mãos de trabalho. Cabeça ocupada não pensa besteira, já dizia minha vó. E, hoje, aprendi com a Adélia outra coisa: ' ... que se deve esperar biblicamente pela hora das coisas'. Então, espero. Às vezes, com uma pressa enorme, mas a fé nos meus passos é maior e mais bonita. Acredito no que é lindo, e assim, desse jeito, tudo ilumina. Meus dias têm se tornado preciosas peças de brilhante. Únicos e verdadeiros. Porque as chaves que abrem a porta da esperança, sou eu que faço.

E te cuida. Te cuida bem.

um abraço forte e apertado!
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Cris, a que sonha.
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16.2.10

para juliana


"É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar,
e mais amar, depois de ter amado"

-Guimarães Rosa-

Toma um coração novo, que foi plantado agora. Cultivado em tempos de paz, regado pela Dona Esperança. Ela ( a Dona Esperança) me dizia, algumas vezes, enquanto eu acompanhava seu esmeroso trabalho que, prum coração nascer forte e saúdavel, devia de ser exposto ao sol assim que nascesse. Pra que ele não se acostumasse com o frio, que gela o corpo e endurece a alma. Depois, eu a via preparar o solo, sempre com muita delicadeza. Arrancando cada formiga assassina que pudesse interferir no crescimento do pequeno coração. Ela passava dias e noites de vigia, para que pudesse colher o melhor do melhor. Um coração bem maduro, fortificado pelas forças do tempo. Um coração que sabia-se ali, sempre pronto pro que der e vier. Um coração humilde, que aceitasse o que a vida lhe impusesse, sem resmungar. Um coração cheio de amor pra dar. Foi então que eu perguntei, quem seria essa pessoa abençoada que receberia tamanho presente. Do que ela me respondeu: 'Vai pruma menina que tá na lida desde cedo, mais apanhando que batendo, com um coração surrado de dar dó. De tanto que se doou, quase que se deu por inteiro, ficando pedaços malfeitos, farrapos e poeira. Mas essa menina é forte. Eu sei que ela não desiste e que ela tá indo à procura das franjas do mar. Um dia há de encontrar. Tenho certeza.' Naquele mesmo instante, eu percebi de quem se tratava. Era aquela mesma Dona Moça, de sorriso bonito, que me manda sempre boas vibrações pelo vento.
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Te levanta daí, Dona Moça, que estradão
é grande e margeado de boninas.
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é bonita!


Fez brotar alegria num canto qualquer da sala. Fez festa bonita com seus discos antigos, entre eles Mutantes, Bethânia e Hendrix. Fez do sofá o palco e cantou pra tirar sorriso da Mariana, o que demorou um tanto, porque a pequena acabara de se ferir, caindo da bicicleta - já está andando sem rodinhas, para alegria de todos. Mais tarde, distribui sorrisos a toda vizinhança, compartilhou sonhos com a menina da esquina. Fez uma máscara da mulher maravilha com um papelão que achou na calçada (até que ficou bem ajeitada, mesmo não possuindo grandes habilidades com as mãos). Fez batuque com a tampa da panela e pintou a cara de batom. Mais tarde, pescou boas lembranças enquanto preparava o jantar. Chegou-se até ela uma música que a avó materna costumava cantar quando menina: 'Vou pedir Nossa Senhora pra tomar conta de mim'. Bons tempos são aqueles que vivem se repetindo dentro da gente. Pois é, tempo bom e que não morre nunca. Depois sorriu ao ver que o pai ainda se entretinha com o Chaves. Glorificou o santíssimo por saber a família ali, sempre por perto. Mariana brincando no tapete da sala, a mãe fazendo crochê. E as mãos amigas, sempre estendidas na hora certa, mesmo que de longe. Pensou nas possibilidades que tinha pela frente. Pensou nos sins e seus sabores. E achou que sua vida, assim olhando, parecia até samba bonito composto pelas mãos de Cartola.
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minha menina

Ela, a Mariana, me tirou sorrisos agora à noite:

- Não faz eu rir, que o soninho vai lá no céu e num volta.

Mas quem disse que eu consigo?
Amanhã você dorme até tarde, combinado?

-Combinado!

PS: Quero-te sempre assim, minha menina,
arrancando sorrisos dos outros.
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12.2.10


Ao som de Gilberto Gil
e um incenso de Sândalo

"Uma mistura de sentimentos dentro de mim neste momento, mas vou deixar se sobressair apenas os bons, apenas os que trazem a felicidade."

(Caio Fernando Abreu)


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5.2.10

olha lá

Como menina-teimosa que é, já está sorrindo! E por isso eu a amo. Por essa vontade de buscar alegria enfincada debaixo de terra e pedra bruta. Por essa vontade de ser feliz que só ela sabe. E segue cantando, batendo no peito: 'Eu sou do comando do bom humor Onde tem brinquedo eu vou. Cantando, sorrindo. Pelo caminho eu vou. Sou brigadeiro do alto astral. Contra o mau humor eu vou. Em cima da onda. Onde tiver amor. Vem que tem munição. Mas nem vem. Tristeza não passa não. Sou do exército da paz. Força armada da alegria. Preparar batalhão. Nosso sorriso É nosso canhão'
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*Porque ela tem uma estrela escondida
na manga. Sim, eu sei que tem.
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criança sonho


E eu ouvi um choro no meio da noite. Era a criança sonho que acabava de ter um pesadelo. Ela me chamava porque tinha medo do escuro. Coloquei o meu no bolso, e fui. Porque juntas somos fortes. E nos contamos histórias de navios piratas e fantasmas nos calabouços, para que o tempo passasse mais depressa. De mãos dadas as coisas não são tão feias assim. Depois ela me pediu para que eu voltasse a dormir, o dia já estava aí. Mas eu disse que não. Ficaria ali até que os fantasmas voltassem pros túmulos. Até que nascesse nela, o primeiro sinal de asa. O que não demorou muito a acontecer, porque ela é a pipa, a que voa.

Era uma pipa criança, que teimava em fazer manha quando as coisas não iam bem. Fazia birra, esperneava, tingia o céu de preto e dizia palavras sem feitios. Não, não me venha com xurumelas. Eu sei que a sua dor hoje é demais. Mas ocê não pode parar de remar. Lembre-se que estamos numa corda bamba. Um dia a gente pensa que vai cair, no outro a gente recupera o equilíbrio. E a vida continua. Porque já dizia um certo Guimarães: 'O que ela quer da gente é coragem'. E digo mais. Ela quer da gente é sorriso em dia de chuva. Um arco-íris no olho e céu estrelado. Durma, Pipa, durma. Amanhã será um novo dia. Levantará mais disposta e recuperará os sonhos perdidos. Por enquanto reze pro teu anjo da guarda, não esqueça da oração que te ensinei. Peça força e sabedoria para entender o que o coração ainda não dá conta. E carregue as coisas boas, todas elas, na algibeira da alma. Porque o que a gente leva dessa vida, Dona Pipa, são os risos, os abraços, os carinhos na alma. E isso ninguém nos rouba. Carregue-os com você. Assim, permanecerão vivos para todo o sempre. E te fortalecerá na estrada da vida, que é cheia de espinhos, mas de flores lindas também. Esta noite, toco no teu coração e te arranco uma farpa com as mãos. Agora, deixa sarar. É só questão de tempo. Um dia, você volta a voar como antes. Eu te juro.
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Te mando minhas vibrações coloridas para juntar com as tuas.
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PS: Ei, Psiu, estou sempre aqui, viu, do lado de dentro!
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PS2: Se amanhã o sol sair, te prometo o céu!
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PS3: Eu me vou. Mas não te deixo nunca!
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4.2.10

do que tem pra hoje

Das orações que tenho pra hoje, essa é a que
vem primeiro: 'Que a força do bem seja dez
vezes maior que a do mal. Amém.'

E hoje eu vou assim
Pintar meu sorriso no rosto
E ser bem feliz

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2.2.10

Dona Moça

Ao som de Secos & Molhados
e um incenso Lua pra clarear.

Menina-moça, tentaram me fazer acreditar que o amor não existe e que sonhos estão fora de moda. Cavaram um buraco bem fundo e tentaram enterrar todos os meus desejos, um a um, como fizeram com os deles. Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. Em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. A manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi com a Dona Chica, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço. Disse um certo pai Ogum.

Ela desatinou
Composição: Chico Buarque

Ela desatinou, viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira, bandeiras se desmanchando
E ela inda está sambando
Ela desatinou, viu morrer alegrias, rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando e ela inda está sambando

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PS: E porque hoje é dia dela, eu vou orar: 'Salve Rainha do Mar, minha mãe Janaína, canto a Iemanjá. Adolê, Odoyá minha mãe! Banha meu corpo, limpa minha alma, renova meu espírito, me abriga em teu íntimo, Mãe d'agua Odoyá!